sexta-feira, maio 24, 2013

Paraíso Sul


Deixe que o dia cante música ao pé do ouvido. 
O sol amarelo e quente queima a retina lá fora,
E dentro o mesmo peso de 15 mil gravidades.

As árvores, verdíssimas da chuva que passou, balançam num balé descalço.
As poltronas do Paraíso Sul seguem cheias de pernas, sacolas, cabeças cheias de contas.
Não leve em conta.

Apenas deixe que o dia cante música ao pé do ouvido,
Enquanto dentro o peito luta, esbraveja para que, de fora, só o sorriso persista.
E o mesmo peso das 15 mil gravidades.

Veja que os dias lindos estão tão lindos,
Não fosse o peso delas, presas, querendo roubar a cor das flores.

E então feche os olhos,
E deixe que Deus mostre seu caminho, verdade e vida.


sábado, junho 02, 2012

Sertão dos Pequeninos

    Eterno Pai, por Tu que estás em cada planta que morre, em todo riacho que seca, fazei crescer nuvens no céu do Sertão!
    Bondoso Deus, Tu que és a Verdade, e estás em todos os pequenos, como podereis não estar em cada bicho morto, de costelas quase expostas por entre um couro seco? Como podereis não estar em cada bicho que quase morre, de sangue seco escaldante e olhos baixos que se rendem, como se estivessem vencidos, como se já estivessem mortos e a vida fosse só um gota d'água que se evapora? Por Tu mesmo, que estás neles, escurecei as nuvens do Sertão!
    Divina Luz, que se fez carne e habitou entre nós, lembra-te da dor que sentistes, de todas as vezes que tivestes fome! Como podereis Tu não estar em todos os homens, nas mulheres, nas crianças, que sobrevivem - sim, graças também a Ti - mas que choram todas as noites? O milho está seco, água clara faz tempo não se vê... Por Tu mesmo, que estás nesses homens, fazei com que chorem também as nuvens!
    E dessa água que cai por amor, somente amor, frutifique a terra, renasçam bichos, plantas e homens novos. Que dos rios, pelo mesmo amor renascidos, possam morrer também as águas, vaporizadas, para que, feito nuvens, possam morrer de novo... Por amor, somente amor, tua assinatura na Terra, escrita por entre os homens, mulheres e crianças, que choram e que hoje te pedem: fazei chover no Sertão dos pequeninos!
   

ANÁLISE SOBRE UMA IMAGEM

http://oblognovodegustavo.blogspot.com.br/2012/06/imagem-de-cecilia.html<<<< eis o link.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Cheia de Graça, o Senhor é convosco!

 
   - Silêncio, que o mundo grita lá fora.
   - Silêncio, que o coração é uma capela de milhares de tímpanos.

domingo, janeiro 15, 2012

De par em par



Árvores paradas da quinta, vistas da janela,
Árvores estranhas a mim a um ponto inconcebível à consciência de as estar vendo,
Árvores iguais todas a não serem mais que eu vê-las,
Não poder eu fazer qualquer coisa gênero haver árvores que deixasse de doer,
Não poder eu coexistir para o lado de lá com estar-vos vendo do lado de cá.
E poder levantar-me desta poltrona deixando os sonhos no chão...

  É a quarta estrofe do primeiro poema de um livro recém recebido. É a Casa Branca Nau Preta, de Álvaro de Campos, bonita face de Pessoa.
  Estou lendo. Por isso me calo.
  Quais as naus que me carregam eu não sei. Tampouco estas naus sabem que me carregam. Estamos os dois em um não-saber de um carregar e ser carregado...
  Mas as árvores são paradas, e Aracaju está sem vento. Arvores estranhas. Estranho querer correr para os quereres corridos. E poder levantar-me desta poltrona deixando os sonhos no chão... 
  Mas há uma voz que diz: guarde-os nos bolsos. Retire-os de par em par, veja-os de frente, na altura dos olhos. Se ainda forem sonhos, se ainda forem seus, então corra, e os queira como se te quisessem também os sonhos.
  Mas o mesmo torpor desconexo, angustia dos loucos. E o Álvaro de Campos, da casa branca nau preta.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

I thought that I heard you laughing

 
   Fotografia velha, amarelada; mas o filme é novo.
   Um balançado meio brega. Hipnotizante.
   Pior trilha sonora do melhor dos sonhos. Quando passa eu esqueço.
   Excesso e falta barulhentos como os saltos altos em alternância.
   Distância nos olhos, pensei ter te visto rindo.

terça-feira, dezembro 13, 2011

loucura loucura loucura

 
   Descrever é diminuir, modificar, por fim. O próprio "eu te amo" quando dito já não ama, só traduz. Descrições corrompem, e as palavras são arbitrárias.
    Quando ela me olhou naquele sol, com aquele sorriso, protegida por aquele vento, quase a amei em segredo.
    Mas chega esse tal de Peirce e me diz que ela nunca me olhou naquele sol, com nenhum sorriso, me diz que não tinha nenhum vento. E acuado eu digo que não amei ninguém. É preciso proteger-se, e a loucura é tão amiga que nos convence de vez em quando!
    Mas o que eu digo agora, meus colegas? Disseram-me que essas coisas só se sentem, e que até os atos são outros atos de outras palavras até. Com as mãos para o auto, quase em um hijack americano, eu digo: eu sinto e penso, logo existo, ou logo mais codifico.
    Aí vem aquele Pessoa e me diminui, me modifica, bota um fim nessa conversa louca, me corrompe, me descreve e me traduz: "a parte que em mim sente está pensando."

E O CALOR VEM DESUMANO

 
   De repente aquela poeira invisível. Fica tudo meio branco, e os pés já não sabem bem por onde pisam. A barriga borbulha qualquer coisa que rima com: "Que é isso, camarada? Será que é dessa vez que vamos juntos comer capim pela raiz?"
   E eu digo, amigavelmente: "Deixa disso, é o verão, e os girassóis do fim do ano."

segunda-feira, dezembro 12, 2011

É DE AMOR QUE O MUNDO VIVE


    Não se engane, amigo, é de amor que o mundo vive. Sem amor à existência, não há vida. (Sim, é preciso amar para estar vivo, e muito mais amor para que se viva, de fato).
    Proponho, pois, um exercício de imaginação: suponhamos que todos os homens e mulheres se odiassem e odiassem a si mesmos. Não haveria entendimento, conversa, ou tempo para o que quer que seja. E então, pouco a pouco, não haveria ser vivo algum. Se não há amor entre eu e o outro, o que me impediria de, em um ataque de raiva ou súbita loucura, acabar logo de vez com esse ser que me olhou torto na fila do pão?
     E, então, sem amor, desapareceriam as filas, os padeiros, os pães, as placas, os sinais, os carros, desapareceríamos. 
     O mundo é mesmo relativo, amigo. O nojo para mim, é a delícia de outras bocas. O meu sol é a lua cheia de um chinês, o meu miojo é uma refeição inteira para quem não tem nada. Mas deixemos a poesia de lado, agora. 
     Nesse mundo de relativos, se faz necessário às vezes estigmatizar, diminuir, exaltar. O amor, caso se fale aos quatro ventos, ganha a conotação de afeto entre dois amantes. Sim, há amor entre duas pessoas que se relacionem. E há amor também nos bom dias, nas mãos que se apertam em um cumprimento, nas filas, nas aulas, nas desculpas, ou nos suspiros de contenção de raiva.
    Digo e repito, é de amor e de paz que vive o homem. É de amor que vivemos, e é de amor que o mundo vive.
    

domingo, dezembro 11, 2011

PRÓPRIAS CONSTELAÇÕES


     O tempo é mesmo o senhor do mundo, carrega e traz com o mesmo gosto. Não há nada perecível que conheça sua força, não existe nada de corruptível que não ame suas promessas.
     Um ano apenas. É o mesmo quarto. Mobília mesma, mesmos CDs, mesmos livros. Só o violão tem uma corda a menos.
     A preguiça está igual, ainda não há guarda-roupa. Só a janela encortinou-se. E o mesmo velho sol...
     A noite ainda é cheia de luz, as mesmas superstições. And the same old fears.   
     Só o menino está diferente. Um pouco mais de cabelo, um pouco menos nas laterais da testa. Algumas tantas constelações desfeitas, outras um pouco novas, um pouco firmes. E as mesmas estrelas sós, com as quais ele constrói todas as outras.

quinta-feira, dezembro 08, 2011

And if I lost the map, if I lost It all


    Quando eu liguei o rádio hoje, eu ouvi você dizendo oi. Melodia alegre, eu disse. When you are tired of racing, and you find you never left the start. Aí você ensaiou alguma coisa para dizer com os olhos. Mas, não sei, alguma coisa travou. Então me deu uns acordes com as mãos.
     Nós ficamos nos olhando. Ouvido com ouvido - de plástico, não se sabe o qual. E eu, na janela, ouvi você dizer que as coisas podiam ter sido outras, tantas, poucas, drásticas e lindas; em seus tempos e situações. Não fui eu que falei. 
     Mas então eu disse, na verdade eu tentei. By the way, huh? Proteção de faces nunca foi dos meus dons. Mas eram ouvidos agora, não eram? Eu te desejei mais uma vez tudo o que há de bom, com aquela dorzinha no peito de quem diz tchau pela centésima vez e o ônibus não chega. 
     Aí então tocou funk.