quarta-feira, abril 16, 2008

Da Saudade


A natureza da saudadeé ambígua: associa sentimentos de solidão e tristeza - mas, iluminada pela memória, ganha contorno e expressão de felicidade. Quando Garrett a definiu como "delicioso pungir de acerbo espinho", estava realizando a fusão desses dois aspectos opostos na fórmula feliz de um verso romântico.

Em geral, vê-se na saudade o sentimento de separação e distância daquilo que se ama e não se tem. Mas todos os instantes da nossa vida não vão sendo perda, separação e distância? O nosso presente, logo que alcança o futuro, já o transforma em passado. A vida é constante perder. A vida é, pois, uma constante saudade.

Há uma saudade queixosa: a que deseja reter, fixar, possuir. Há uma saudade sábia, que deixa as coisas passarem, como se não passassem. Livrando-as do tempo, salvando a sua essência de eternidade. É a única maneira, aliás, de lhes dar permanência: imortalizá-las em amor. O verdadeiro amor é, paradoxalmente, uma saudade constante, sem egoísmo nenhum.
[Cecilia Meireles]

2 comentários:

Anônimo disse...

tão belo quanto a simplicidade das palavras...

Anônimo disse...

Muito lindoo!! Esse texto exprime realment mt em poucas palavrass