quarta-feira, maio 28, 2008

Irei, então, me entorpecer.


Sei que posso estar errado e realmente espero que um dia as opiniões mudem; mas cansei das pessoas. Estou farto de confiar nelas, uso-as como sonífero: vagas e indescritíves me mergulham numa noite sem sonhos, da qual nada sei além do preto que envolve meus olhos. Cansei dos sorrisos convenientes e dos comentários educados que os seguem. Nada de realmente produtivo é dito e o mundo se constroi em cima de segredos... Nem as tão faladas janelas da alma, que seriam então mais confiáveis, puderam escapar: inventaram-se os óculos escuros.

A luz do dia enche de claridade o que antes era negro e só assim posso ver uma única saída: o individualismo. Então me embebedo do doce vinho de mim mesmo, encho minha alma de minha própria alma, faço dos sorrisos longas conversas e das lágrimas longos abraços, redobro-me em personalidades destinhas e até tenho debates internos constantes (nem todas são assim tão amistosas).

E se, por uma suposição prevista, vierem me perguntar se gosto do meu mundo, direi que sim. Esse, por sua vez, é construído pela base sólida dos desejos, tem pilares de ciência e paredes de felicidade; ele é sólido, intacto, previsível e confiável, tem tetos de vidro blindado e chão que está sempre em contato com meus pés. Nele encontro refúgio como a cama quente em noite de frio.

(E ainda há quem prefira amigos imaginários...)

6 comentários:

Anônimo disse...

Po, Gustavo. Gostei muito desse. Muito mesmo. Eu me identifiquei com ele, admito.

Bem narcisista, com um ar otimista do tom 'se vc n se amar, quem p fará?', e com um finalzinho sutil, provocando um sorrisinho meia-boca. Um sorrisinho sentido pela ironia antitética. Ao mesmo tempo em que conforta, analisando mais um pouco torna-se uma baita bofetada no leitor.

Muito bom. Fazer um livro com vc não foi um convite à toa.

Abração!

Anônimo disse...

corrigindo: quem O fará?*

Anônimo disse...

Entorpecer-me de mim mesma, quiçá, seja o melhor caminho agora, onde eu posso criar meu própria mundo e viver dentro dele. Concordo, Gustavo, aqui as paredes parecem ser tão mais seguras e de concreto, mesmo que aparentemente sejam invisíveis. A melhor maneira de vencer esse cansaço "humano", porém, acho que não era se desviando dele, mas mudá-lo. Se a gente não acredita que batalhas são travadas a partir do momento em que ocorre o primeiro passo, nada sai do lugar.Vai tudo ser sempre mito.

Vamos conviver, vamos quebrar as 'regras' da conveniência e da inquientude formal, vamos ser sinceros conoscos e com os outros. Porque se não o fizermos, tornaremo-nos meros egoistas esclarecidos, despreparados para os destronos da vida que nos encerra.

Precisamos viver.

Anônimo disse...

...Ah! e viver é uma questão de experiências, sejam más ou ruins.

Anônimo disse...

e eu que ousava acreditar que conhecia o individualismo...
putz, adorei... principalmente o "me embebedo do doce vinho de mim mesmo..."

chico disse...

Somos humanos. Necessitamos de outros humanos pra sermos plenos como tal. De certo que, antes de mais nada, precisamos completar nossos "eu's" individualmente, mas isso não exclui as pessoas.
Você considera seu mundo, provavelmente, o ideal; eu considero que estou chegando bem perto do meu mundo ideal também, assim como conheço muita gente que habita esses mesmos pensamentos.
Aprender - talvez seja uma palavra forte nesse caso, a compartilhar de vários mundos, nos engrandece...
Nem tudo - e nem todos, está perdido a partir de quando tentamos encontrar, e por que não, modificar, conciliar a realidade como um todo.
Talvez eu tenha interpretado mal o propósito das suas palavras...
[...]
Mas tudo bem!
Belo post!
Abraço!


Rilton