quarta-feira, julho 23, 2008

Reforma



Sinto, mas tenho que inventar um novo mundo... Um novo infinito particular que me complete, me defina, ainda que a pobre recíproca não seja das mais verdadeiras. Enquanto falo, os personagens do meu palco interior morrem, pessimistas e lentos como o vento no fim de frase que carrega os fragmentos de pólen mortos por um sonho não alcançado: imagem túrgida de gineceus que nunca conheceram. Insaciável, o melancólico incolor carrega ainda as cores dos suspiros perdidos e dos pingos de chuva, espalhando seu ódio pelas janelas tais.

Abomino, portanto, a primeira pessoa (As coxias estavam sós).

- Assim, o cidadão que aqui escrevia se despede, a abominável primeira pessoa era sua última palavra no leito de morte.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mapa de anatomia: o olho


O Olho é uma espécio de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globobrilhante:
parece cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro.


Mas por dentro há outras pinturas,
que não se vêem:
umas são imagens do mundo,
outras são invetadas.


O Olho é um teatro por dentro.
E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
formam, no Olho, lágrimas.

[Cecília Meireles]

Anônimo disse...

Esse texto define perfeita e minuciosamente teu blog.

Sentes que realmente deves inventar um novo mundo? Quanto a isso nem se preocupe, vc se inventa a cada consoante perdida no papel, meu velho.

Talvez eu nunca tenha te dito isso, pra não alimentar o teu ego excessivamente, a ponto de caíres em profunda náusea afogada em boçalidade, mas desta vez foi inevitável.

Tu és um GÊNIO, meu velho!

Abraço!

[Não. Eu não preciso me identificar.]