quinta-feira, outubro 15, 2009

Obrigado, Tempo! (Mundo Naufragante)


Todos nós somos quase obrigados a nos afundarmos em incertezas quando ouvimos a voz prática e individualista do nosso próprio ego... E no naufrágio não se sabe mais o que é o bom senso, ou a capacidade de ouvir e de nos permitir sermos úteis a alguém (É só servindo a outro que se serve a sí).
Peço licença então para comparar tudo a um barco que mergulha no misterioso mar incerto. Todos sabem que o fim de suas vidas, bem como o de todas as coisas que os rodeaim (com exceção do mar) está muito próximo.
Alguns tripulantes desesperados com o fim se encarregam de fingir que estão salvos afim de ter a vida que sobra e, quem sabe, uma morte mais felizes. Esquecem, porém, que todo fingimento é triste e se gasta muito mais energia vivendo a mentira que encarando o que acontece.
Outros se desesperam e gritam a Deus e ao mundo pedidos de socorro. Se parassem de gritar, talvez, veriam que outros também gritam na intensidade que são capazes, e assim poderiam socorrer para serem socorridos. Mas eles apenas gritam.
O grande e interessante papael nessa história está, porém, nas minorias que são drasticamente opostas e por isso não se misturam, não brigam entre sí porque têm seus respectivos lugares e os ocupam conforme a consciência. As duas minorias são a dos comandantes e a dos observadores.

Os comandantes dão e obedecem ordens numa hierarquia; recebem lições que atendem aos próprios anseios e esperam sempre o reconhecimento de seu trabalho com a remuneração. O barco então passa a ser em seus olhos apenas um instrumento para chegar ao sonho: o dinheiro do fim da viagem. Eles gritam a todos do barco em naufrágio: "Mulheres e crianças primeiro!", enquanto no fundo torcem para poder salvar os que têm aquilo que desejam. É a matéria que os move. São os primeiros que morrem.
E a segunda minoria, que é humildemente menor que a primeira, entende que ali no naufrágio do egoísmo e da vaidade que combinamos representar por um barco, são todos iguais os indivíduos, todos sabem que estão afundando. É quando a sensatez desses observadores se trasforma em confusão e as almas que observam se perguntam porque todos não enxergam também a solução que os una num objetivo comum. Talvez porque são todos diferentes e ninguém além dos próprios náufragos pode dizer o que é certo. Os que observam são felizes por poder observar, e isso basta.
O barco então vai cada vez mais lento, enquanto os tripulantes estão cada vez mais rápidos em se salvar. Não encontram nunca a tranquilidade e sao tristes, pois. Morrem na esperança de salvação porque estão agitados demais para procurá-la. Ainda que os tripulantes sejam tão distintos, com sonhos de futuro tão diferentes, todos procuram o mesmo. E só querem se sentir bem, só querem estar salvos dos naufrágios de suas próprias almas.
Peço mais uma vez licença para perguntar a todos nós que navegamos: A que grupo queremos pertencer? Peço também que não leve minha pergunta a mal porque a faço com a inocência de um velho sábio e a simplicidade de um jovem aluno... Nós ainda temos muito tempo se agradecermos por tudo que acontece ao nosso redor...
Ainda que o barco esteja em vias de desaparecer no mar salgado, nenhum milímetro que se afunda não traz sabedoria. O que temos a decidir é se queremos realmente essa dádiva das águas. Quando as ondas fortes do destino fazem o barco rodopiar como uma folha verde na tempestade cinzenta, eu mais uma vez me pergunto: o que estamos nós procurando? e ainda: o que fazemos nós desta procura?

Um comentário:

Anônimo disse...

Eis aí o retrato do egocentrismo (talvez egoísmo) humano. Vi vários trechos de obras que se encaixariam aí. Fico impressionado com esse seu poder de síntese e união de tantas ideias em poucos parágrafos.

- Woman and children first! And children first! And chidren...

É, estamos afundando dia após dia e nunca utilizamos de ao menos um segundo para agradecermos por absolutamente nada.

Chega de pensar no fim da linha, basta aceitá-lo como a gota d'água que se prepara para desmanchar-se ao chão. Basta acreditar que esta gota se elevará e conquistará um pedaço nas nuvens mais uma vez. E agradecer, apenas agradecer.

Abração!