quinta-feira, outubro 27, 2011

É COR QUE VEM DE DENTRO


Finalmente chuva. Os pés pisam o barro vermelho lamacento. Havia rachaduras no chão; ainda há rachaduras nos pés.

Os pés pisam e os olhos choram; quase tanto quanto as nuvens. Eles não parecem filhos deste chão. Mas quem parece, afinal?

Os pés pisam, os olhos choram e as mãos juntas rezam. Agradecem.Os lábios se erguem e os dentes saem. São amarelos os dentes, mas quem é branco, afinal?

Os pés pisam, param; os joelhos se dobram. De repente é como uma sinfonia ou uma cena decisiva de cinema. Há luzes de diversas cores, há um ritmo nordestino com marcações de pulso, há um coração de pulso forte e acelerado. As gotas grossas caem. E até quem está seco, até que está longe, até quem está surdo ouve um imenso obrigado tão grande quanto a chuva e quanto os olhos.
 
E os pés pausados que andam, de onde vêm? Agora para onde vão? Os pés pausados ficam. E faz-se o rancho, faz-se a vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gosto desse estilo dissertativo-poético. Ou poético-dissertativo? É, acho que a segunda opção se encaixa melhor ao caso. Não sei se conseguiria te alcançar nesse ponto, tenho uma visão social tão pobremente poética. Ou tão poeticamente pobre? Whatever. Só sei que em meus anos poéticos, cada vez mais mudos, eu só tive olhos para mim. No máximo, para o amor, seja em qual for a vertente (amada platônica, amizade, e até narcisismo poético etc.)

Hoje diria que você é um cubo mágico, que se vai montando pouco a pouco e mostrando todas as suas facetas possíveis!

abração, irmão