terça-feira, novembro 08, 2011

ÁGUAS-VIVAS DE OUTUBRO

   
   Apesar dos sorrisos, dos olhares retos e dos pensamentos tortos, eles estavam sós. Não havia completude, abraçavam-se os vazios. E o sol que entrava pela janela enquanto ela desenhava linhas curvas na parede próxima ao seu rosto.
   O sol entrava e brilhavam pequenos flocos de poeira. Se eram células livres dos corpos, ou águas-vivas que boiavam no vento de suor e silêncio, pouco importava para os dois.
   Ele olhava as sombras das nuvens na parede oposta, com uma calma de quem padece. Uma mão na cintura dela e outra no próprio peito. Podiam-se fazer melodias de assovio: o sol entrava pintando a parede de amarelo. Estavam amarelos os dentes, os corpos, a cama de solteiro. Amarelo estava o dia. 
    E as almas sós pintavam-se de carinho. De repente olhares tortos, pensamentos retos, sorrisos tímidos, cama grande demais.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ah, irmão, você é terrível! Eu tento, juro que eu tento dizer pra mim mesmo: Ah, eu vou elogiar o mínimo possível para não parecer puxa-saquismo exacerbado, mas você não deixa! kkkkkkk

Bom, partindo para o plano literário, digo de antemão que você retornou com classe ao seu bom e velho estilo (não que eu não goste do mais recente, mas o antigo me é mais atraente, você sabe). O texto foi bem pitoresco, formando à minha vista um belo quadro. E as comparações? Nossa! Ímpares! As águas-vivas-flocos-de-poeira foram o auge! Vão ficar na memória!

Aquele abraço!

Luciana Mans disse...

Já sou apaixonada por seus textos. A cada frase pronta há muito sentimento e verdade respirando. Não fala por ser sua amiga, mas por ser uma critica chata. Cara, que texto bonito. Realmente ... adorei.

Ou como de costume: SUPER CURTI!
:)

Nana! disse...

ô menino que escreve maravilhosamente bem! Deu pra imaginar toda a cena, tão bonito!